quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

A voluntária que ouve você

Se você tem um montão de amigos, vive falando ao celular ou trocando mensagens de texto com eles, se enturma rápido, tem boa relação com os colegas de trabalho, se dá bem com a família, talvez nunca vá precisar da ajuda da Adriana Rizzo, 41 anos. Mas ela estará à disposição para te ouvir, assim como faz pelo menos uma vez por semana com inúmeras outras pessoas que ela nunca viu na vida, nem chegará a ver.

Adriana é voluntária do Centro de Valorização da Vida (CVV) – você já deve ter visto alguma propaganda na TV. Há 13 anos, dedica quatro horas e meia de suas terças-feiras à noite para ouvir pessoas que não têm com quem compartilhar momentos, sejam eles bons ou ruins. Algumas, à beira da depressão ou do suicídio.

Na grande maioria das vezes, Adriana atende por telefone (90% dos que procuram o CVV o fazem via telefone, segundo a voluntária). Ela ouve quem liga, estimula o desabafo e tenta entender o que se passa. “A gente vai conversando, mostrando que estamos compreendendo. O momento é da pessoa, ela é que vai conduzir”, diz Adriana, que mora em Araraquara, no interior de São Paulo. O CVV, porém, oferece atendimento também por carta, e-mail ou pessoalmente.

Segundo ela, o plantonista da organização, que é uma das mais antigas do Brasil – fundada em 1962 -, procura não interferir, direcionar a conversa ou opinar. ”É difícil falar algo para alguém que você nem conhece”, argumenta a engenheira agrônoma de formação, que recebe treinamento constante para atuar o mais profissionalmente possível.

Solteira e sem filhos, Adriana afirma que muitos casos a comovem, mas que é preciso não confundir os problemas. “Com o tempo, vamos aprendendo a separar o que é nosso e o que é da pessoa que precisa de ajuda”, diz a voluntária. “Nos treinamentos, a gente se ajuda, se apoia. Passamos por problemas o tempo todo também”, observa.

Agora no fim de ano, época em que a sensibilidade fica à flor da pele, o número de ligações aumenta de 20% a 30%, embora algumas delas sejam apenas para agradecer um atendimento anterior e desejar boas festas. Adriana, que trabalhou na terça-feira, dia 27, fará um plantão extra nesta semana, cobrindo uma colega, na véspera do dia de ano novo. Não ficará até a meia-noite, mas certamente alguém estará lá para ouvir quem quer que precise.

“É uma sensação boa de poder ajudar com uma coisa simples, que é conversar com a pessoa. É fácil, todo mundo pode fazer. Quantas vezes a gente não faz isso no ônibus?”, diz Adriana. Para ela, não é necessário ser voluntário, estar dentro do CVV, para oferecer um ouvido amigo. Basta olhar ao redor e ver que há pessoas precisando de atenção. “Às vezes, a gente está tão ensimesmada que não se dá conta disso”.

Voluntariado do CVV
Exigências: ter mais de 18 anos de idade e pelo menos quatro horas disponíveis
Preparo: curso de três meses oferecido pelo CVV várias vezes no ano
Atuação: telefone, carta, contato pessoal, e-mail e chat, nos 71 postos espalhados pelo Brasil
Número de vagas: ilimitado
Inscrições: no site www.cvv.org.br, nos campos “Voluntários” e “Seja Voluntário”.

TBI na floresta de Bebedouro

Michelângelo na Floresta Estadual de Bebedouro.
Foto: Luciana Quierati
Na manhã desta quinta-feira, em meio a uma área de floresta no coração de Bebedouro, interior de São Paulo, o Terra das Boas Ideias conversou com Michelângelo Stamato. As lentes de suas câmeras fotográficas já registraram 214 espécies diferentes de aves pela cidade. E o que ele faz com essas fotos? Fique de olho no blog para saber.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Construindo uma escola de bambu

Ao contrair malária e febre tifoide, o jornalista Vinícius Zanotti teve que ficar na Libéria mais do que os 15 dias planejados para o primeiro país na lista do seu “mochilão”. E enquanto se recuperava, conheceu Sabato Neufville, um liberiano de 34 anos, prestador de serviços da ONU, que, ao identificar uma comunidade de duas mil pessoas sem escola, resolveu criar uma. A obra foi paga com seu salário, também empregado em manter o corpo docente e os nove órfãos de guerra adotados por Sabato.

Reconhecendo tal esforço, o jornalista brasileiro, que havia colocado a África no roteiro para servir como voluntário durante sua estada, entrou em contato de lá mesmo com amigos e concluiu que uma rede podia ser formada para dar mais dignidade a alunos e professores. Fez um documentário contando a história de Sabato e da comunidade onde a escola foi erguida, na periferia de Monróvia, capital do país, e lançou oficialmente em setembro deste ano o projeto Escola de Bambu. O objetivo: construir uma escola nova, mais estruturada.

Entenda a história na entrevista concedida por Zanotti ao Terra das Boas Ideias nesta semana, em São Paulo.

Vinícius, em São Paulo, de onde coordena a campanha Escola de Bambu.
Você conheceu vários cenários na Libéria. Por que resolveu se envolver com a escola do Sabato?
A necessidade dele e da instituição dele. Na época, ele era um prestador de serviços da ONU, tinha um salário que variava de 500 a 800 dólares mensais, e mesmo com esse dinheiro ele tirou do próprio bolso para construir uma escola, pagar o salário dos professores, sem falar no fato de ele já ter adotado nove órfãos de guerra. Era uma pessoa que merecia total contribuição e respeito.

Por que ele criou uma escola?
A escola que ele montou é numa comunidade que, segundo ele, tinha uma incidência alta de crime, de drogas, e as crianças não estavam indo para a escola justamente porque não havia escola. Então ele decidiu que seria melhor construir uma e fez a escola de bambu. Pegou os bambus, cobriu, montou uma estrutura e começou a receber as crianças, de forma gratuita. Não existe escola gratuita na Libéria, apesar de os valores cobrados serem baixos.

Não há escola pública?
Tem pública, mas não é gratuita. Não é pública no sentido brasileiro. Segundo o que ele nos passou. Você tem que pagar uma taxa semestral.

A maioria não deve ter condições de pagar a escola.
Acredito que não. É um país onde o salário mínimo é de US$ 40 por mês e 80% da população não têm emprego formal, ou seja, ganham menos de US$ 40 por mês. Então, certamente falta para a educação.

Como é a escola de bambu do Sabato?
Na verdade, essa escola teve um problema. Ela não está mais sendo uma escola, teve uma disputa do terreno, segundo o que o Sabato nos disse na vinda dele para cá. Agora as crianças estão em um centro, que o Sabato havia feito antes mesmo de construir a escola, chamado Centro de Jovens, mas é um espaço bem menor. Ele é feito com uma construção mais acabada que o bambu, porém é muito menor. Segundo ele, mais de 500 crianças estão nesse lugar, então imagino que seja uma situação bem desconfortável. Eu cheguei a conhecer esse centro, é uma casa pequena, com uns quatro cômodos. Com aquelas crianças que eu já tinha visto ficava muito pequeno, e agora com essa entrada maior, acho que fica meio impossível.

Qual a capacidade da escola de bambu que vocês pretendem fazer?
Ela tem capacidade para abrigar de 300 a 500 alunos, dependendo do formato da carteira. É uma construção que vai ser feita com bambu tratado, que vai substituir o ferro. Até para manter a cultura africana. As paredes serão com uma mistura que se faz com a terra do próprio local. Também queremos disponibilizar energia, incialmente solar, além de banheiros. É uma comunidade que tem 2 mil pessoas e nenhum banheiro. Nossa ideia é fazer um banheiro comunitário com tratamento de esgoto, para que eles consigam também fazer adubo. Outra ideia é o abastecimento de água da chuva, que eles não têm, e captação de água. Hoje o poço fica muito distante das residências, e quem faz esse trabalho geralmente são as crianças. Com cinco anos eles já estão colocando cinco ou seis litros de água na cabeça e levando até em casa. Nossa ideia é pensar em uma estrutura mais próxima das residências e também algo para melhorar esse transporte.

Como é o “banheiro” atual deles?
Não tem fossa, não tem nada. É no terreno, mesmo. E isso ocorre em grande parte da Libéria. Nessa comunidade específica não tem nenhum, mas em grande parte da Libéria também não existe.

Como é que o Sabato conseguiu recrutar outros professores para ganhar praticamente nada para dar aula na escola dele?
Eles têm um sentimento muito grande quando se fala em reconstruir o país. Eles tiveram uma guerra que devastou, foram quinze anos, mais de 300 mil pessoas morreram. Hoje a população deles é de 3 milhões, então 10% morreram. Até mesmo no documentário tem um professor que falou: ‘olha, eu ganhava US$ 310 por mês, estou ganhando US$ 10. Mas se eu não der aula, essas crianças não vão ter outro professor’. Então, eles decidem por isso. Pela vontade de reconstruir a Libéria. O país não vai ser reconstruído de um dia para o outro, vai demandar tempo, e ele vai ter que ser reconstruído pelos liberianos. O incentivo à educação é fundamental nesse sentido.

O Sabato adotou nove órfãos de guerra. Ele já tinha família?
Não, essa é a primeira família dele. O Sabato tem 34 anos e o filho mais velho adotado tem 27. O mais novo tem sete ou oito anos. Desde cedo ele se acostumou a trazer as pessoas para perto dele, dar um jeito de abrigá-las, alimentá-las. O Sabato acabou tendo uma filha no ano passado, mas ele não é casado com a mulher.

Mora todo mundo junto?
O Sabato mora em uma casa com um quarto, um banheiro e uma sala. Quando eu fui lá, ele dividia o quarto com a mulher. Na sala, ficavam dois dos mais novos. Três dos mais velhos ficavam numa outra casinha que era só um cômodo. E outros em outro cômodo. Eles vivem na mesma comunidade, em casas diferentes, mas a alimentação, tudo provém do Sabato.

Você conheceu esses filhos? Como é a relação deles com o Sabato?
É uma relação de muito respeito e admiração. O respeito ao mais velho na Libéria é muito maior do que o que estamos acostumados aqui. Esse é um dos motivos do respeito. O outro é pelo Sabato fazer tudo o que faz, por ter abrigado todos eles e cuidar deles.

Como foi a estada dele aqui no Brasil, este ano?
Ele veio no mês da Consciência Negra para várias atividades em Campinas e uma apresentação em São Paulo, como forma de fazer debates, apresentar toda a problemática dele. Ele foi palestrante de um seminário e ficou 17 dias.

O que ele achou do Brasil? Ele teceu comparações?
Foi a primeira vez que ele entrou em um país que não fosse devastado por guerras. Ele chegou a ir para a Costa do Marfim, Serra Leoa, alguns países conflituosos. Quanto ao Brasil, ele não aceita comparação, nem se for relacionada à violência, nem se for pela pobreza. Chegamos a fazer inclusive umas visitas com ele, na (favela de) Paraisópolis, e ele entrou em algumas casas. Ele disse: ‘olha, Vinícius, aqui eles são pobres, mas têm energia elétrica, água, internet, televisão. Se eles fossem os pobres da Libéria, morreriam na primeira semana’. Não tem uma comparação. A maior parte das pessoas de lá perdeu algum parente na guerra, viu alguém ser assassinado. É uma realidade muito oposta. Eu consegui ver também um pouco do desconhecimento deles. O uso do cartão de crédito é algo que não existe lá. Quando a gente foi andar de metrô, ele disse ‘olha o trem’. Eu falei: ‘não, é o subway, underground, metro’. Mas para ele, era o trem. Isso mostra o conhecimento de mundo deles.

Quanto custa o projeto: R$ 337.199,55
Quanto já foi arrecadado: R$ 11.892,07
Como contribuir: comprando o DVD, camiseta e caneta do projeto no site www.bambooschooldoc.com ou fazendo qualquer doação via conta corrente.
Contato: viniciuszanotti@gmail.com



Foto e vídeo: Luciana Quierati

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A merendeira que perdeu o emprego por ajudar os pobres

Tia Lúcia em sua asa, na rua 12 do Residencial Centenário, em Bebedouro-SP.

Ela assim justifica e muita gente na cidade acredita na mesma versão, apesar de esta não ter sido dada oficialmente como a causa do ocorrido. Ela é Maria Lúcia dos Reis, mais conhecida por tia Lúcia, de 64 anos; o ocorrido, sua demissão do cargo de auxiliar de serviços gerais da prefeitura de Bebedouro, no interior de São Paulo, enquanto trabalhava numa escola; e a versão mais aceita, a de que o fato de tia Lúcia dar as sobras de sopa da escola para famílias carentes, quebrando assim as regras da administração, levou a sua demissão por justa causa em 2000.

O emprego veio a faltar, mas a vontade de ajudar continuou latente em tia Lúcia, que havia trabalhado na colheita de laranja antes de ser contratada pelo município, em 1988. Por três vezes tentou entrar para a política. Queria poder legislar por quem mais precisa e ter uma remuneração maior que atual, para contribuir mais do próprio bolso, diz ela.

“Eu arrumei a cama, mas a mulher não tem R$ 20 para o carreto. Então, vou esperar eu receber um dinheiro (pagamento de salário) para poder mandar lá para ela”, diz tia Lúcia se referindo a uma cama conseguida como doação para uma família do Jardim Santa Terezinha que estava dormindo no chão, em novembro, quando desta entrevista. “Eu descubro tudo quanto é gente que está precisando”, diz a aposentada, que mora há 20 anos no Residencial Centenário, do outro lado da cidade.

Tia Lúcia com cama para doação a família carente.

Como ela não quer mais saber de política – fez promessa de que não se candidataria mais se Deus afastasse dela o diagnóstico de um câncer -, resta apenas continuar a fazer da forma de sempre. Doadores não faltam. Talvez porque já perceberam que ela não desiste fácil de pedir e que, se quisesse usar isso em benefício próprio, nesses 13 anos de atuação, já o terei feito, a começar dando um “tapa” em sua casa mal-acabada, a de número 591 da antiga Rua 12.

Piso de cerâmica tem na cozinha, mas nos demais cômodos é piso de concreto pintado de azulão. Até a caixa d’água dá para ser vista a partir do sofá da sala. Ela está sob o telhado, mas não há laje nem forro para escondê-la.

Mesmo assim, simples, a casa está sempre cheia de amigos. “Meu marido me largou por causa disso. Ele queria descansar durante o dia e sempre tinha gente aqui em casa. Se cansou”, diz. E as amigas são muitas e frequentes, porque tia Lúcia vende lingerie, pão de queijo e artesanato, e quando não consegue ir até as clientes, estas vêm até ela. Mesmo no seu horário de soneca, já que há dois anos tem trabalhado de noite e madrugada cuidando de uma senhora de 93 anos que já sai da cama.

Tia Lúcia realiza festa todos fim de ano para a criançada.

Apesar de todas suas ações em favor das pessoas, uma festa de Natal, realizada já há 11 anos, é que a torna mais conhecida na cidade. É destinada às crianças do bairro, com direito a bolo de cinco metros de comprimento e presença do ‘bom velhinho’. “Sou discriminada lá na igreja porque faço as festas e levo Papei Noel. Eles não gostam, mas eu não ligo!”, diz Tia Lúcia, que é evangélica. Ela frequenta a igreja, usa vestidos longos e cabelos em coque, como é comum às irmãs de sua religião, mas acredita que a alegria das crianças vem antes de qualquer regra convencionada pelo homem.

Para seus “sobrinhos”, tia Lúcia não nega nada, mesmo que eles sejam de famílias que não se esforcem por melhorar de vida. “Não ajudo qualquer um, não. Se é vagabundo, não ajudo. Vou até a casa pra ver. Mas as crianças sempre ganham alguma coisa, porque não têm culpa, né?”, argumenta.

Apesar de contar com a ajuda de muitos colaboradores, que fazem doações, ela organiza tudo sozinha. Ao mesmo tempo em que corre atrás de quem doe sorvete e pão para o cachorro-quente, compra açúcar e já pensa no dinheiro que terá que separar do 13º salário para pagar o rapaz que fará o algodão-doce. “Eu dou o açúcar, pago R$ 50 e ele vai lá com o carrinho fazer o algodão. Todo ano é assim.” O mesmo acontece com o pipoqueiro.

A festa é para crianças de zero a 12 anos, com prioridade para as mais carentes – apesar de ninguém ser barrado na porta. Ela mesma passa de porta em porta convidando.

Fotos: Luciana Quierati

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Petição pede pena máxima para agressora de cão

Nessa nova fase do Terra das Boas Ideias, abriremos espaço para notícias, boas ou ruins, que possam nos mover a favor de uma causa. Comecemos, então, por nos manifestar contra atitudes como a mostrada do vídeo abaixo.

Nas imagens, uma mulher, a priori identificada como enfermeira de 22 anos, da cidade de Formosa-GO, espanca um Yorkshire na frente de uma criança pequena. Segundo o Jornal Hoje, o cãozinho morreu. O vídeo foi gravado, aparentemente, por alguém que estava no andar de cima do apartamento dessa mulher.

Independentemente de quem seja (o caso está sendo investigado), uma petição pública online foi criada para exigir pena máxima por maus-tratos para essa mulher. Acesse e assine.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Perfil do voluntário brasileiro


Pesquisa da Rede Brasil Voluntário, realizada pelo Ibope Inteligência, aponta que um em cada quatro brasileiros com mais de 16 anos, cerca de 35 milhões de pessoas, faz ou já fez algum trabalho voluntário.

Dos que atualmente realizam alguma ação de voluntariado, 53% são mulheres e 47% homens, com uma média de idade de 39 anos. Dividem-se entre casados (47%) e solteiros (42%).

A pesquisa completa está no site da Rede: http://www.redebrasilvoluntario.org.br.

Clique aqui para ver o infográfico em tamanho maior.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Seu Zé dos abaixo-assinados

Acabo de escrever mais um texto para o Suplemento de Natal da Gazeta de Bebedouro e gostaria de compartilhar aqui um pouquinho dessa história, que vai para as bancas na minha cidade em 24 de dezembro.

É a história do seu José Antônio Cardoso, de 78 anos. Aposentado por invalidez desde os 54 anos, depois de um acidente de trânsito que lesionou sua coluna, o mineiro de nascença e bebedourense de coração vive tentando arrumar soluções para seu bairro, o Jardim das Laranjeiras.

Dez anos atrás, encabeçou um abaixo-assinado pedindo a reabertura do posto de saúde, que fica a um quarteirão de sua casa. Conseguiu 1,5 mil assinaturas, e a unidade voltou a funcionar.

Dois anos atrás, durante duas semanas, repetiu o feito de bater de porta em porta, agora com a saúde e a disposição um pouco comprometidas pela idade. E desta vez, a demanda era o recapeamento das ruas do bairro. Ele mora no Laranjeiras há 22 anos e diz nunca ter visto obras permanentes no asfalto, apenas aquelas operações tapa buraco que são desfeitas a cada chuva mais forte.

"Saía logo cedo e de tanto pegar sol na cabeça vim a ter labirintite", conta o morador, que precisou passar pelo médico em meio às visitas que fazia para coletar assinaturas. Conseguiu 470 e as entregou a um vereador, que diz ter repassado ao prefeito. Só que ao contrário da primeira vez, esta obra ainda não foi realizada, para desânimo do aposentado.

"Às vezes, é uma coisa que não está no alcance do prefeito. Nós entendemos. Mas o caso é que já faz 22 anos, né?", observa seu Zé, que aparece na foto mostrando um dos buracos em frente sua casa que havia acabado de ser tapado com brita, no final de novembro. Medida meramente paliativa.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Na favela, dando sentido à vida numa cadeira de rodas

Rose e o caderno com o cadastro das famílias beneficiadas.

Daqui a 10 dias, cerca de 200 crianças da Favela do Cigano, em Santo André, na Grande São Paulo, vão ter uma festa de Natal. Talvez a primeira da maioria. Com direito a sacolinha com roupas e doces, cachorro-quente e muita música animada.

A favela pode ser vista ao longo da linha férrea que liga o município à capital, e fica do ladinho da estação que toma emprestado o nome do bairro, Utinga. Foi criada por ciganos, mas eles já se foram. Também não há bandidagem, assegura Maria Rosimere da Silva, de 36 anos, idealizadora do evento.

A Favela do Cigano, que fica ao lado da estação Utinga de trem.

Foi contemplando a vida em harmonia na comunidade de cima de sua cadeira de rodas, junto ao seu portão, por tardes e tardes, que Rose também percebeu que as mesmas pessoas que viviam em paz, estavam na miséria. E a gota d’água para tomar uma atitude foi quando um menino (foto), que ainda circula de fraldas pela Travessa da Paz, a principal rua da favela, veio até ela pedir comida.
O pequeno que inspirou Rose a trabalhar pela comunidade.

Uma vizinha doou um cômodo e nasceu o Clube de Mães, que almeja não apenas uma festa de fim de ano, mas assegurar um pouco mais de dignidade aos moradores durante o restante dos meses. Rose, que foi morar na favela porque não conseguia pagar o aluguel na Rua Viena, também em Utinga, hoje quase não sai de casa. Impossibilitada pela falta de movimento nas pernas, quando sai, ou é para ir ao médico ou para pedir doação para os vizinhos mais pobres.

O que ela pode fazer dentro da própria comunidade, ela faz. Enquanto conversávamos, um carro de som, caindo aos pedaços, passava pedindo que todos os pertences fossem retirados da travessa porque em poucos dias o asfalto vai chegar. Assim como no ano passado chegaram a água encanada e a energia. E o asfalto, ai se não fosse Rose tomar a frente e fazer um abaixo-assinado!

Até dar um jeito de alfabetizar quem não pôde ir à escola, o grupo de Rose pretende. O Clube de Mães já conseguiu carteiras e alguns computadores. Agora só falta dar um jeito de as aulas começarem. Ela própria não estudou quando criança e quando se preparava para iniciar a quarta série no supletivo, ocorreu o acidente de trabalho. E agora, por ironia do destino, por conta dela a filha do meio, de 15 anos, deixou a escola.

A sala onde o grupo de Rose pretende promover aulas para adultos.

Mas Rose não perde a esperança de voltar a andar e de ver a filha formada em arquitetura. Nem de ver sua favela transformada em um bairro mais abastado. Do que depender dela, não faltarão braços para tornar isso tudo uma realidade.



Fotos e vídeo: Luciana Quierati

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Carlão, o treinador

Carlão e as carteirinhas de seus alunos do Parati I.

Pelada de criançada na rua tem um par de chinelos no gol. Na escolinha do professor Carlão, tem duas pedras bem grandes. Até existe trave, que foi ganha de um patrocinador, mas fica guardada e só é utilizada em dia de jogos contra equipes de outras escolinhas. Deixar as traves ao léu, sem ninguém para cuidar, no terreno vazio que Carlão usa para treinar seus alunos, não seria uma boa ideia.

Carlos Humberto Elisiário, de 46 anos, dá aulas quatro vezes na semana, em dois períodos diferentes, no gramado irregular de uma área da prefeitura, que fica no meio do Jardim Parati I, no município paulista de Bebedouro. Ali poderia ser uma praça, mas só reinam as ervas daninhas. Então, professor Carlão aproveita o espaço para fazer algo útil.

O treinador, em conversa com seus alunos, antes de um treino.

Ele criou sua escolinha, faz carteirinha de identificação para cada um da turma, leva água e 'prancheta' com esquema tático, e não ganha nada por isso. Faz porque acredita que o esporte é saúde, cria disciplina, fomenta as amizades. E ai de quem não tirar nota boa na escola! Professor Carlão exige o boletim no final do bimestre.

O treinador diz que um de seus sonhos é fazer faculdade de Educação Física, mas só conseguiu estudar até a quarta série. Pensa em fazer supletivo no próximo ano. Quem sabe não dá tempo? O outro sonho é ouvir no futuro, dos meninos que treina, que eles se tornaram alguém na vida pela ajuda do treinador.

"(A escolinha) é simples, né, mas dentro do meu coração ela é muito mais do que simples, é um campo profissional", diz. Assista ao vídeo!



Fotos e vídeo: Luciana Quierati

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Dando vida ao bosque

Moradores, suas enxadas e suas obras vivas no Jardim do Bosque.

Circulando por Bebedouro (a 392 km de São Paulo) à procura de personagens para o Suplemento de Natal do jornal Gazeta de Bebedouro, encontrei quatro pessoas que decidiram cuidar de um bosque abandonado.

São quatro benfeitores que limparam o terreno, retiraram o mato, deram um chega pra lá nas cobras que teimavam em cruzar a cerca e amedrontar os moradores (estas acabaram ficando um pouco mais distantes das residências) e adotaram a área como se fosse uma extensão de seus quintais.

Plantaram hortaliças, frutíferas e outras 60 mudas de árvores conseguidas com o parque ecológico da cidade. Instalaram bancos, demarcaram um campinho de futebol, fizeram uma churrasqueira... Transformaram o bosque em uma área de uso comum, onde qualquer um pode apanhar as mangas do pé, desde que ajude a preservar.

Assista ao vídeo e conheça um pouco mais desses moradores!



Foto e vídeo: Luciana Quierati

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Primeiro fruto já tem nome: Presente para o Futuro

Meu penúltimo post aqui no blog foi comemorando o fato de que, ao completar dois meses, o Terra das Boas Ideias já havia conseguido colher um primeiro fruto, a união de um grupo para fazer algo de bom pela educação em Ibiúna.

E é com muito gosto que agora compartilho que essa união ganhou o nome de Projeto Presente para o Futuro, que já tem blog (http://projetopresenteparaofuturo.blogspot.com), página no Facebook e sua primeira campanha, de arrecadação de livros, gibis e brinquedos para a Escola Municipal Teresa Falci, no bairro do Cupim, zona rural do município.

O projeto também tem data marcada da primeira reunião entre aqueles que querem participar da iniciativa, dia 3 de dezembro, em São Paulo (local a definir). Se você quer saber um pouco mais do Presente para o Futuro, fique de olho nas postagens do blog com mais informações sobre essa reunião e participe!

Fachada da escola onde o projeto tem seu início.
Foto: Luciana Quierati

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Seu Carlos e seus sonhos tão dispersos

Fico pensando se o seu Carlos não sente falta do jornalismo. Será que nas noites frias e de insônia na calçada do Teatro Cultura Artística não lhe dá vontade de voltar no tempo em que um bloco de papel e uma máquina de escrever eram seus companheiros inseparáveis? Agora, de inseparável, ele só tem duas sacolas pretas onde guarda suas poucas roupas. Já teve carrinhos de juntar papelão, mas lhe roubaram.

Até pouco tempo atrás ele também tinha uma dentadura, da qual só se separava na hora de dormir. E aí ele inventa de amarrá-la no carrinho e levam carrinho com dentadura junto.

E então me ponho a pensar que nem se ele tivesse dentes na boca, que adiantaria sonhar com o jornalista que ele um dia foi? Ele não terá mais a oportunidade de escrever para um grande jornal. Ou mesmo pequeno, que seja. Ele não tem endereço. Referências. Portfólio até teve. Sem falar num colega do jornal que fez um livro e contou o trabalho dele em algumas páginas. Mas isso alguém também surrupiou.

E fico pensando ainda se seu Carlos não sente falta da família que está em Minas. Será que nas noites frias e de insônia na mesma calçada não lhe dá vontade de dormir no quarto ao lado de uma das irmãs e com ela tomar café quentinho passado no coador de pano? Ele tem uma família, com sobrinhos e tudo o mais. Agora, com eles, o único contato é por telefone, porque ele não pode dar o endereço para receber carta. Não o tem. E também não tem coragem de dizer que mora na rua e que a última mudança que fez foi sair da Consolação com a Araújo para a calçada do teatro, porque a guarda municipal achou que ele estava muito visível aos olhos da população.

E como é que ele vai chegar em casa para rever os familiares sem dentadura, sem endereço, sem mala, só com duas sacolas pretas de lixo na mão?

Ah, ele deve sentir falta do jornalismo e da família. Mas essas, para ele, já não são coisas acessíveis. E assim se conforma com a vida que vai levando. Sem mais nenhum sonho. Sem mais vontades. Até que a morte chegue ou alguém se apresente para lhe estender a mão.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O primeiro fruto do Terra das Boas Ideias

Dois meses depois de sua entrada no ar, o Terra das Boas Ideias já colhe o primeiro fruto diante da concepção que lhe foi atribuída: incentivar seus leitores a ter a mesma atitude de pessoas - entrevistadas para o blog - que optaram por tomar a iniciativa em vez de ficar esperando pelos outros, que arregaçaram as mangas e chamaram a responsabilidade para si.

Depois da veiculação da reportagem sobre os Amigos do Barracão, mais pessoas voltaram seu olhar para o município de Ibiúna-SP e suas carências. E no chuvoso e barrento dia de ontem, o que chamo provisoriamente de Projeto Ideias para Ibiúna começou a ganhar forma, com uma reunião na casa dos fundadores do barracão, que tanto conhecem a realidade daquela comunidade.

Parece que tem uma galera com vontade de ajudar, e o blog fica muito feliz com isso, porque a comunidade de Ibiúna, especialmente a que mora na zona rural (maioria da população), precisa muito. As ideias estão surgindo, desde já com um viés educacional. Porque acreditamos que sem educação a situação naquele lugar não vai mudar.

O Terra das Boas Ideias está diretamente envolvido com esse trabalho que ora começa e convida seus leitores a se engajarem e acompanharem o passo a passo disso tudo na página do blog no Facebook, onde está sendo postado um álbum com fotos da reunião de ontem, feitas pela mascote do grupo, a Isabela Souza.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Um sinal no fim do túnel

Depois de conversar uns dez minutos com a psicopedagoga Christiane D’Angelo Fernandes, 47 anos, não dá para duvidar que ela seja capaz de transformar agressividade em ternura. Seu entusiasmo é contagiante e empregado no tratamento de crianças e adolescentes com dificuldades no convívio social.

Mas tem um trabalho, que extrapola os limites diários de um consultório, que a deixa ainda mais reluzente. O de voluntária em um grupo que atua dando respaldo ao trabalho do Ambulatório de Socialização do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Esse grupo se chama Sinal (Socialização da Infância e Adolescência Laborada) e dele ela é a diretora-executiva.

Todas as segundas-feiras à tarde e em um sábado por mês, ela e colegas de voluntariado destinam um tempo para conhecer um pouco mais da realidade dos pacientes do Instituto que apresentam dois tipos de transtorno: o de conduta e o opositivo-desafiador. Sabe aquelas crianças que são sempre do contra, não querem obedecer ninguém, não se enturmam, não têm autocontrole sobre as situações e vivem fazendo ameaças por aí? Então, elas são o alvo de Christiane e sua equipe, que também lidam com os familiares dessas crianças e adolescentes. Afinal, o convívio dentro de casa está diretamente relacionado com a questão.

Christiane também tem família. É casada há 21 anos, tem um filho de 17 e uma filha de 14. E como todo mundo na casa já percebeu que sem a atividade voluntária ela não seria a mesma pessoa, o apoio é integral. "Eles compartilham, curtem muito", diz a psicopedagoga, que tempos atrás ouviu da filha que ela era sua heroína. Também pudera. A mãe lida com situações difíceis, relacionamentos delicados de pais e filhos, e chega em casa sempre sorridente, cheia de carinho para dar e ainda com disposição para mais trabalho voluntário – a Sinal não é sua única fonte de 'doação ao próximo'.

Marido e filhos entendem o sentido dessa dedicação e já começaram a dar os primeiros passos no encalço da mãe. Perceberam que é gostoso ajudar. Que acordar às 5h da manhã de um domingo para levar alimento e uma palavra amiga a um necessitado dá uma sensação ao final do dia que um belo passeio na praia, sob a sombra e regado à água fresca, talvez não propiciasse.

Para Christiane, o tempo que se doa como voluntário não é um tempo que se perde. É um tempo vivido em dobro. "Faz bem pra saúde, emocionalmente, te traz muitos amigos", enumera a mulher que não aparenta estar perto dos 50 anos e que garante ser o segredo dessa vivacidade toda a felicidade obtida por poder fazer o que faz.



Vídeo: Luciana Quierati

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Inspirada em site de compras coletivas, dupla cria Mendigo Urbano


De tanto receber e-mails de um site de compras coletivas (o Peixe Urbano), brotou uma ideia na cabeça de João Burzlaff: porque não criar um site de ajuda coletiva a moradores de rua? Ele a compartilhou com o amigo de infância Bruno Henrique Stein e nasceu, então, o Mendigo Urbano, em agosto deste ano.

Por meio do site, qualquer pessoa pode doar, via cartão de crédito, qualquer quantia para um dos moradores de rua elencados. Quando as doações completam R$ 250, o morador de rua que teve o 'passe comprado' recebe um kit composto de cesta básica, roupas e corte de cabelo.

Em entrevista ao Terra das Boas Ideias, os gaúchos João, 19 anos, da cidade de Novo Hamburgo, estudante de Publicidade e Propaganda, e Bruno, 20, da cidade de Dois Irmãos e estudante de Comunicação Digital, contam um pouco mais sobre essa história:

Quando começou o contato de vocês com moradores de rua? O que motivou esse contato?
João Burzlaff - Esse contato existia como existe com qualquer pessoa, no caminho para escola trabalho, etc.

Quantos kits já foram entregues?
Bruno H. Stein - Foram completados três kits até o momento, porém só uma entrega foi realizada. Nas próximas semanas devemos entregar os outros dois.

Ao terem a ideia, comentaram com outras pessoas? Foram incentivados? Houve quem não os compreendesse?
João - Comentamos a ideia com poucas pessoas, houve algum estranhamento por parte delas, mais a maioria incentivou.
Bruno - Pela excentricidade do conceito, até eu tive receio antes de iniciar o desenvolvimento. Com algumas mudanças na ideia original, chegamos a um consenso.

Percebo que não houve um rodízio muito grande de moradores no site. Está difícil obter ajuda? Existe desconfiança da parte das pessoas?
Bruno - Os números foram impressionantes durante a semana em que o site se manteve na grande mídia nacional. Logo que baixaram os holofotes, as contribuições praticamente estagnaram.
João - Existe, sim, essa desconfiança e como não temos nenhuma ajuda de fora, fica difícil aumentar o alcance do site. Estamos tentando criar uma plataforma livre para disponibilizar para entidades e assim fazer o site funcionar de maneira mais eficiente.

Quem ajuda é informado que o kit foi entregue?
João - Sim, comunicamos pelo nosso Twitter e o blog do sit. Um vídeo é postado com a entrega.
Bruno - Mantemos um blog - menos atualizado do que gostaríamos – no qual pretendemos publicar vídeos de cada doação realizada, para que os doadores possam ver seu esforço dando resultado.

Como é a seleção de moradores de rua para entrar no site?
João - Procuramos colocar pessoas que já conhecíamos e sabíamos que precisavam de ajuda.
Bruno - Os moradores de rua selecionados eram previamente conhecidos ou por mim ou pelo João. O contato é pessoal e tentamos esclarecer as dúvidas que eles têm - que são muitas. Houve um caso em que o morador de rua preferiu não participar do site; respeitamos.

Existe um campo no site aberto para moradores de rua indicados por leitores. Já houve indicações?
João - Já houve diversas e uma delas já resultou na entrada do José para o site.
Bruno - Indicações de moradores de rua foram abundantes. O grande problema é que são localizadas em diferentes regiões do país, e não temos logística para atender isso.

Vivemos em um mundo de grandes gênios da tecnologia, da informática, grandes criadores de softwares e hardwares, e a maioria visa o benefício próprio ou de um grupo. Por que trabalhar sem pensar em lucro, para beneficiar outras pessoas?
João - Penso que o mais importante é ter um ideal e um motivo para criar. Nós trabalhamos para criar algo que traga alguma mudança no mundo, seja diretamente ou por meio de questionamentos e críticas. O que fizemos foi incorporar isto em nosso site. E neste caso não havia espaço para lucro, a ideia precisa se manter pura.
Bruno - Achamos a ideia muito interessante e acreditamos nela. Pensamos que isso é motivo suficiente para executá-la, mesmo sem qualquer lucro financeiro.

Como ficou a vida de vocês depois do início desse trabalho? Mudou alguma coisa de vocês para com vocês mesmos e de vocês com relação às outras pessoas, familiares e amigos, por exemplo?
João - Além da experiência de administrar este site e falar com estas pessoas, tendo assim uma visão diferente da situação delas, agora tenho um trabalho que começa a mostrar o que quero fazer e quais são meus ideais.

Estão satisfeitos com o andamento do site?
João - Estamos satisfeitos com o alcance que o site teve e com a mídia gerada, mas ainda há muito para se fazer antes de dizer que este projeto está concluído. Temos planos para ampliá-lo bastante ainda, e nos próximos meses isso deve acontecer.

Ainda com relação à área social, vocês têm outros planos, outras ideias?
João – Sim, temos planos e outras ideias para diversas áreas que devem ser lançadas em um futuro próximo.

Mendigo Urbano
http://mendigourbano.com
No site, é contada a história de cada morador de rua elencado.
Também vale a pena assistir ao vídeo do site:



Vídeo: Divulgação

domingo, 2 de outubro de 2011

Seu Carlos teve que fugir da mira do satélite

Reencontrei seu Carlos, o meu vizinho da Araújo com a Consolação, na mesma esquina, agorinha. Mas ele estava só de passagem. Voltou a dormir na calçada do Teatro Cultura Artística por força das circunstâncias. E as circunstâncias foram as seguintes:

- no começo da semana, 2h da madrugada, a Guarda Metropolitana levou seu sono embora. “Acorda cidadão”, disseram;

- o motivo para tal perturbação do sossego foi a de sua retirada do local. “Aqui é muito visível. O senhor tem que procurar um lugar mais escondido”, disse um dos guardas;

- outro, querendo esclarecer, comentou que até ‘satélite’ capta a imagem do seu Carlos dormindo e a retransmite para todo o mundo;

- um terceiro, tentando ser mais simples, explicou que alguém denunciou seu Carlos por dormir naquele lugar.

O crime do seu Carlos: dormir na calçada da Araújo com a Consolação. 'Acusado' justamente na semana em que ele foi tão bom cidadão:

- amparou uma moça, moradora de rua, que havia sido agredida pelo namorado, também morador de rua;

- e dividiu o marmitex de feijoada ganhada com um desconhecido que do outro lado da rua o via comer, com os olhos marejados de tanto desejo.

Seu Carlos teve que se arrumar rápido, porque os guardas não arredariam o pé da esquina enquanto ele dali não saísse. Nem calçou os sapatos. Só queria sumir dali. E foi a pé para o Largo do Paissandu, terminar a noite em meio a uns maloqueiros, como ele chamar os moradores de rua mal-intencionados. No dia seguinte, voltou a dormir na calçada do teatro, em obras após o incêndio de anos atrás.

Diante dessas circunstâncias, então, seu Carlos já não é mais tão meu vizinho e não o verei mais diariamente, nem ouvirei seu “boa noite, vai com Deus”. Nem nossos curtos diálogos poderão mais ser captados pelos satélites indiscretos que gostam de ficar flagrando os cidadãos por aí, especialmente os que não têm onde morar.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Por onde anda o seu Carlos

Faz dias que não vejo o seu Carlos e notícias dele, estou longe de ter. Ele não mora em lugar com portas onde eu possa bater, ou com telefone para onde eu possa ligar. Sequer tem vizinhos que possam me dar informações sobre seu paradeiro.

Passar às 5h30 em frente à casa lotérica da Araújo com a Consolação e ver a calçada quadriculada vazia tem sido uma constante. Onde será que ele tem dormido?

Depois que o Teatro Cultura Artística pegou fogo, tendo ele como testemunha, seu Carlos só teve a calçada da lotérica como cama. Ele não costuma dormir em abrigo. Nem está tão frio para que ele tenha procurado por um nesta semana. Já enfrentou temperaturas bem mais baixas sem sair do seu lugar.

E com certeza não sou só eu a sentir a ausência do seu Carlos. Ele é uma pessoa benquista, por conta de sua simpatia, cordialidade e história. Um dia ainda dou um jeito de o seu Carlos me contar tudinho em entrevista, para eu poder dividir com vocês. É uma vida que merece ser contada. Precisam vê-lo falar do AI-5, dos militares, do que pôde ver em seus vários anos como jornalista. Ele foi repórter e até chefe de reportagem. Bem de vida.

Hoje mora na rua, apesar de sua família, que vive em outro Estado, não saber dessa realidade. “Digo que não posso dar endereço porque vivo de pensão em pensão”, é a justificativa que ele dá para irmãos, irmãs e sobrinhos, envergonhado de sua condição.

Fato é que agora nem eu mais sei por onde anda o seu Carlos.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Eleja as prioridades dos vereadores de SP para 2012

Morador de São Paulo: quer mais acesso a cadeirantes nas calçadas e ônibus, mais vagas e abrigos para quem vive na rua, mais educação, mais saúde, mais faixas para pedalar com sua bike? A Rede Nossa São Paulo e a Câmara Municipal da capital paulista disponibiliza um questionário na internet para que esse tipo de demanda possa ser apontado como prioridade em 2012.

Trata-se de uma consulta pública, para eleição de prioridades, em cima das quais os vereadores trabalharão com mais afinco (pelo menos essa é a proposta) no próximo ano.

Leva uns 15 minutos para responder o questionário, disponível no site Você no Parlamento. Vale a pena dar um voto de confiança e ter esperança de dias melhores na cidade, não é mesmo? Acesse e saiba mais!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Quando a gente se cansa de "ser normal"


Quase todo mundo já teve seu dia 'jornalista Elcio Thenorio': acordar, ver-se angustiado, descontente com a vida que leva, e constatar que é preciso uma reviravolta. Mas muita gente volta a dormir horas depois e o sentimento de mudança acaba ficando em segundo plano em meio a tantos problemas para resolver.

Pois bem, Elcio Thenorio, um paulista de 51 anos, que foi repórter de TV por 10 anos e atuou na Globo, Record, Bandeirantes e Gazeta, voltou a dormir diferente depois desse dia de reflexões, não deixou a poeira baixar, e só mais alguns dias foram necessários para ele colocar os pés no asfalto. As rodas, para falar a verdade.

Em 3 de setembro, partiu do Marco Zero da Praça da Sé, em São Paulo, com destino ao mundo. Seu projeto, denominado Rodas Livres, é percorrer 90 mil km, por 80 países, em cinco anos, a bordo de uma bicicleta reclinada, em busca de boas ideias na área da sustentabilidade – as quais ele vai relatando dia após dia em seu blog na internet.

Thenorio trocou algumas palavrinhas com o Terra das Boas Ideias ontem. Estava em Jaguariaíva (PR), primeira cidade visitada no Estado vizinho depois de seu percurso por São Paulo. Confira o bate-papo:

O que leva um jornalista com a sua experiência a trocar o sossego de um trabalho fixo, em uma grande empresa como as que você já trabalhou, por cinco anos de pedaladas pelo mundo? Compensa?
Há muitos anos não sei o que é um trabalho numa grande empresa. Durante os 12 últimos anos fui proprietário de duas locadoras de câmeras em São Paulo (Rentalcam e Nova Engs) e de sossego não vi nada. Na minha idade não há mais essa opção de ser funcionário,
bater cartão. A saída é ser empreendedor. E para ser empreendedor novamente em São Paulo, confesso que a ideia não me agrada, ao menos não agora. O que me faz agir assim é a confluência de alguns fatores, tais como: tenho espírito aventureiro, quero conhecer o mundo, estou ficando velho e se não fizer uma loucura agora talvez não dê para fazer mais, cansei de ser normal. É claro que compensa, basta não pensar em termos monetários.

E como fica sua família nessa história?
Sou solteiro, não tenho filhos, meu pai morreu há 1 ano e minha mãe está internada com Alzheimer avançado. Minha família são meus irmãos e sobrinhos e todos estão curtindo junto comigo.

Quais são suas primeiras constatações, resultado desses primeiros dias de jornada? Algo diferente do que o esperado?
Sim, minha progressão diária é bem inferior à que havia imaginado: 60 km/dia. Tenho rodado 60 km num dia, mas depois paro dois – para descanso, turismo e/ou reportagens. Assim, os cinco anos previstos vão acabar se tornando 15. Mas tudo é possível e nada disso me preocupa, porque tenho todo o tempo do mundo, e isso é que é o mais legal.

Você pedala atrás de histórias de pessoas que se importam e trabalham pela preservação do meio ambiente. O que encontrou de mais interessante até agora?
Ainda estou muito no começo, mas já achei esforços pela criação de um parque nacional em torno do Cânion Pirituba, em Itapeva. Também uma empresa que criou uma trilha ecológica para fins educativos numa fazenda em Itararé. Um artesão que faz sua arte apenas com material colhido no mato, em Jaguariaíva. E a estrada continua...

Como tem sido para esse jornalista escrever cada dia a partir de uma cidade e para um infinito de pessoas, pela internet?
Meus posts diários tornaram-se, para minha surpresa, uma espécie de novela, com muitos seguidores. Esse pessoal me escreve diariamente e chega a cobrar se deixo de postar. Isso também tem sido muito bacana e gratificante para mim.

Existe algum país ou lugar que o deixa mais ansioso por chegar?
Sim, o Paraguai, porque é o próximo.

Projeto Rodas
Elcio Thenorio vive de patrocínios. No site do projeto dá pra saber como contribuir com a jornada do jornalista.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Evento gratuito trata de consumo colaborativo e transporte compartilhado

Já pensou em alugar aquela pilha de DVDs que só faz criar pó na prateleira? E em ir para o trabalho de carona e assim economizar combustível, fazer novos amigos e contribuir para um planeta menos poluído?

Consumo colaborativo e transporte compartilhado são temas de evento gratuito que acontece nesta quinta-feira (22) – Dia Mundial sem Carro -, das 9h às 18h, no Centro Empresarial de São Paulo, na zona sul da cidade. A realização é do site Caronetas Caronas Inteligentes, que lançou moda no Brasil e tem caído no gosto de muita gente pelo Brasil.

O tema do evento é "O poder do coletivo: consumo colaborativo e transporte compartilhado em prol de cidades mais inteligentes e sustentáveis" e terá entre seus palestrantes o idealizador do Caronetas, Marcio Nigro, o diretor de operações do Groupon, Renato Pereira, o criador do Catarse, Diego Reeberg, e o sócio-diretor da Compartibike e responsável pelo sistema de bicicletas compartilhadas da USP, a Pedalusp, Mauricio Villar.

As inscrições são gratuitas, mas as vagas limitadas. Acesse o site do Caronetas para ter mais informações.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Um apoio para quem começa a empreender


Aos 23 anos ela foi ambiciosa o suficiente para criar um banco. Com tanta audácia e empenho, podia ter começado naquele ano, 2009, uma grande carreira de sucesso no mundo dos negócios. Podia ter começado a garantir o futuro dela e dos filhos que pretende ter. Mas o banco que ela criou não lhe traz esses benefícios todos. Contribui apenas para que outros os possam ter.

Filha de um caminhoneiro e de uma costureira, a mercadóloga Alessandra França (a primeira da esquerda para a direita na foto) decidiu pensar em quem, assim como ela, tem boas ideias, mas não consegue fazê-las sair do papel por falta de incentivo. E, inspirada no Banco Grameen – um dos casos de negócios sociais mais conhecidos do mundo -, ela fundou o Banco Pérola de microcrédito, na cidade onde nasceu e vive com a família, Sorocaba, a 100 km da capital paulista.

O nome "Pérola" também teve uma inspiração. É o nome de um projeto social, realizado por uma organização não governamental, pela qual Alessandra passou na adolescência e da qual ela se tornou coordenadora anos mais tarde.

História de vida à parte, fato importante é que muitas pessoas estão conseguindo abrir seus negócios por conta da instituição financeira, que além do dinheiro, devolvido em suaves prestações a juros baixos, oferece acompanhamento, com visitas periódicas de agentes que orientam o tomador do empréstimo sobre os passos a seguir.

Darlene Cesar de Oliveira, de 36 anos, tinha uma loja de utilidades domésticas que não lhe dava lucro nem satisfação profissional, já que seu sonho sempre foi o de trabalhar no ramo de confecção. Pegou dinheiro no banco, viajou a São Paulo, comprou roupas e acessórios e transformou a lojinha de bacias plásticas, conchas e escumadeiras na Darling Modas. O negócio foi crescendo, ela pagou o empréstimo em dia e no mês passado buscou mais incentivo no banco, desta vez para investir em divulgação.

O valor do empréstimo concedido pelo Banco Pérola varia de R$ 50 a R$ 5 mil e, segundo Alessandra, R$ 130 mil já foram tomados emprestados pelos clientes, que são pessoas que moram nas áreas mais carentes da cidade. "Vejo que com pouco dinheiro é possível fazer muita diferença e que um negócio desses dando certo, muda a vida de uma família inteira".

Para saber mais sobre o funcionamento do Banco Pérola, acesse.

Banco Grameen
O Grameen Bank foi o primeiro banco do mundo especializado em microcrédito. Foi fundado em 1976 pelo professor bengalês Muhammad Yunus com o objetivo de erradicar a pobreza no mundo. Em 2006, tanto o banco como seu fundador ganharam o prêmio Nobel da Paz.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Amparados pelo barracão da sopa

Dona Aparecida e suas netas esperam ônibus para voltar para casa.

Dona Aparecida Vieira Pires tem 70 anos. É uma das 22,2 mil mulheres que moram na zona rural de Ibiúna – no município, a 72 km de São Paulo, quase a metade da população vive no campo. E assim como quase 20% dos ibiunenses, segundo dados de 2003 do IBGE, ela vive na linha da pobreza.


Tendo como fonte de sustento apenas a renda da aposentadoria, dona Aparecida mora no bairro do Capim Azedo, de onde nasce o rio Una, que deu origem ao nome da cidade. Foi lá que criou os nove filhos e onde vai nascer o próximo neto - ou neta. Ela só vai saber o sexo no dia do nascimento. A criança será dada à luz em uma casa simples e a encherá de alegria, para compensar a dor que dona Aparecida teve quando soube que a filha de 41 anos, portadora de deficiência mental, havia sido vítima do abuso de dois vizinhos.


"Já me disseram para eu dar a criança, mas eu não dou não. Eu vou criar", estabeleceu a aposentada. O bebê se juntará aos outros netinhos na casa, entre eles Maria Madalena, cuja mãe – nora de dona Aparecida – deixou marido e outros três pequenos para ir viver no mundo.

No dia em que foi feita essa reportagem, dona Aparecida esteve com Maria Madalena e outra neta, Beatriz, no barracão da Estrada do Feital onde todo domingo servem uma sopa reforçada. Depois de dar entrevista, ficou me espreitando pela cerca de arame, na espera de uma possível carona naquele dia ensolarado. Só me dei conta disso no meio do caminho de volta para casa, ao encontrar as três no ponto do ônibus, à beira da estrada.


"Fiquei olhando para ver se você dava uma carona, mas você entrou lá pelo sítio com os outros", disse ela, se referindo às pessoas que servem a sopa e que, após a distribuição, se recolhem para o interior do sítio onde fica o barracão.
"Que horas passa o ônibus da senhora?", perguntei.
"Ele vem às 2h."
"Mas agora são 12h30!", disse.
"Eu ia até o fim da estrada pegar um ônibus que passa mais rápido, mas meu joelho não permite", disse a mulher sem jeito, ouvida atentamente pelas netas sempre quietas.


Eu, estando de moto, pouco pude fazer. E dona Aparecida ali ficou em meio à poeira, a esperar o primeiro dos dois ônibus que tomaria para chegar ao Capim, empunhando os dois baldes de sopa de macarrão com frango recebidos no barracão.


Pobre, sem instrução, vítima do descaso das autoridades e da maldade dos próprios vizinhos, dona Aparecida exemplifica bem o perfil das pessoas atendidas pela Associação Amigos do Barracão. Assim como todos os outros cadastrados no projeto, ela ganha sopa todo domingo, recebe presente no Dia das Mães, vê os netos contentes ao ganharem roupas e brinquedos no Dia das Crianças e já teve garantido o enxoval do bebê prestes a nascer.


O barracão, na zona rural de Ibiúna, a 80 km de São Paulo.
A associação foi criada 16 anos atrás quando Carlos Roberto Barussi, 40, que mora na capital paulista, comprou um sítio na Feital. Levava os amigos nos finais de semana para o tradicional churrasco, mas se incomodava em ver tanta gente carente no entorno. "Por que você não distribui uma sopa no barracão?", alguém questionou o representante comercial. E, assim, a antiga olaria, nos fundos do sítio, se tornou o barracão da sopa.


Os amigos do churrasco se tornaram os Amigos do Barracão e desde então cada um se esforça como pode, fazendo eventos ou tirando do próprio bolso, para garantir a refeição do domingo das famílias beneficiadas. A sopa é preparada por eles próprios numa cozinha industrial que foi montada no local. Também se incumbem de realizar festas comemorativas ao longo do ano, além de cesta básica no Natal e material escolar no começo de cada ano.


Mas a função assistencialista já não mais agrada os fundadores da associação, que conseguiram transformá-la em uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) – título concedido pelo governo – e agora querem desenvolver projetos profissionalizantes, que fomentem a geração de renda na comunidade. "A maioria das pessoas trabalha na roça, mas não há trabalho para todo mundo", constata Barussi.


O grupo já até conseguiu doação de máquinas de costura e espaço também tem. Falta agora estruturar um projeto, contar com o envolvimento da comunidade e começar a garantir um futuro diferente para os ibiunenses frequentadores do barracão. "Vou ficar mais feliz o dia que a gente ver que a sopa já não é mais necessária. Por isso pensamos nesse trabalho profissionalizante, que é a alavanca para tirá-los dessa condição", sonha a mulher de Carlos, Simone Lopes, que é fonoaudióloga e preside a associação.


Simone Lopes, a presidente da ONG Amigos do Barracão.

Como posso ajudar?
- aderindo ao grupo como voluntário;
- doando roupas, cobertores, cestas básicas, material escolar e ingredientes para a sopa;
- efetuando depósito de qualquer quantia em conta bancária fornecida no site da associação.


Onde fica o barracão?
Na Estrada do Feital, s/nº, Bairro do Murundu, Ibiúna-SP


Quando é servida a sopa?
Todos os domingos, entre 10h30 e 12h


Mais informações
Pelo site e pelo e-mail amigos@amigosdobarracao.com.br.



Fotos e vídeo: Luciana Quierati

terça-feira, 6 de setembro de 2011

O que acontece na região chamada Chifre da África

Tomo a liberdade de postar um trecho da excelente reportagem do jornalista Gerson de Souza para a edição de 14 de agosto do Domingo Espetacular da Record. Ele retrata a situação de miséria na região chamada de Chifre da África, que compreende cinco países: Eritreia, Djibuti, Etiópia, Somália e Quênia.

Deixo abaixo uma primeira parte do programa, postada no Youtube. Mas a reportagem completa está no site do programa.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Como fazer a diferença no mundo – Exemplo 2

Todo mundo vive falando da polêmica construção da hidrelétrica de Belo Monte. Você já deve ter ouvido a respeito. Mas sabe exatamente quais são as implicações desse projeto? Quais são os prós e os contras?

E sobre compostagem, já ouviu falar também? Quem gosta de plantas ou tem planos de fazer uma horta em casa pode ter um bom aliado nos compostos, que ajudam a melhor gerenciar a destinação do lixo doméstico e a reduzir o uso de herbicidas e pesticidas.

Estar antenado sobre os assuntos sustentáveis é uma forma de contribuir com o meio em que se vive, seja sabendo dar uma opinião mais embasada quando preciso, seja agindo dentro da própria casa.

Até o dia 2 de outubro, questões socioambientais estarão na pauta da Matilha Cultural, dentro do "Setembro Verde", evento com programação gratuita. Haverá debate sobre Belo Monte e oficina de compostagem caseira, além de shows, intervenções e exibição de filmes. A programação é bem variada. Até feira de adoção de cães e gatos vai ter.

A Matilha Cultural é um centro cultural independente e sem fins lucrativos que fica na rua Rego Freitas, 542, no centro de São Paulo.

A programação do "Setembro Verde" está no site.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Como fazer a diferença no mundo – Exemplo 1

Depois da divulgação da reportagem "Missão: fazer a diferença no mundo", sobre o trabalho das sócias Silvia Prado e Vanda Ferreira, de São Paulo, um leitor sugeriu que escrevêssemos sobre como podemos agir para integrar a parcela simbólica de 5% da população que faz a diferença no mundo, ou seja, que não deixa o dia passar em branco, olhando para o próprio umbigo. Vai, então, uma primeira dica de ação.

Todo mundo sabe que o planeta tem sofrido por conta de ações desenfreadas do homem. Em vez de preservar o meio em que vive para poder colher frutos mais adiante, ele resolve lucrar agora e arcar com os prejuízos do futuro – que serão inevitáveis diante de tanta ganância.
Sendo assim, cada cidadão pode fazer a sua parte mostrando sua insatisfação contra tais desmandos. Apoiar causas como as levantadas por organizações não-governamentais é um bom começo.

Ontem, 31 de agosto, durante um protesto contra a exploração de petróleo na região baiana de Abrolhos, os ativistas do Greenpeace passaram por maus bocados (confira aqui). Eles queriam chamar a atenção para o fato de que extrair petróleo no local pode trazer sérios danos à natureza e seus animais, como as baleias jubarte, ameaçadas de extinção. Mas, em vez de serem ouvidos, foram parar na delegacia.

Para apoiar esta causa do Greenpeace (dentre as tantas bandeiras levantadas pela entidade), basta assinar uma petição, fornecendo apenas nome e e-mail (super-rápido!). O objetivo do 'abaixo-assinado' nada mais é do que pedir mais tempo para a população discutir sobre o assunto e para o país procurar outras formas de produzir energia por meio de fontes renováveis, buscando a independência dos combustíveis fósseis. A petição está na página do manifesto "Deixe as baleias namorarem", onde você fica sabendo mais sobre a região de Abrolhos - há fotos e vídeo.

Nada complicado começar a fazer a diferença, não é verdade?

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Missão: fazer a diferença no mundo

Silvia Vanda e a equipe na sede da empresa, e São Paulo.

Silvia Prado, 39 anos, é consultora de e-commerce. Vanda Ferreira, 49, é microbiologista. Mas nem uma profissão nem outra as motivam tanto quanto o objetivo de fazer a diferença no mundo.

Essa história de "fazer a diferença" da qual elas não se cansam de falar começou na época da faculdade de Silvia. Um texto de autor desconhecido que corre a internet, intitulado "A bronca mais dura que levei", foi apresentado em sala de aula por um professor. A partir daí, Silvia não teve mais dúvida: queria fazer parte dos 5% da sociedade que, segundo o texto, consegue fazer a diferença no mundo.

Um dia, no salão de cabelereiro, Silvia conheceu Vanda e a contagiou com sua vontade de criar um projeto que a levasse a alcançar o objetivo dos 5%. Vanda topou e elas se tornaram sócias no "Eu faço a diferença no mundo", proposta que começou com a venda de camisetas feitas a partir de garrafas pet.

Hoje elas conduzem uma confecção na Vila Alpina, zona leste de São Paulo. Recebem o fio produzido a partir da reciclagem de garrafas plásticas e o enviam para a tecelagem. Com a malha pronta em mãos, fazem o corte e encaminham as peças para um grupo de costureiras de uma comunidade carente. No retorno à fábrica, que emprega quatro pessoas, estampam, etiquetam e embalam.

Vendem as camisetas pela internet e em feiras pelo Brasil a fora. Querem bastante divulgação da ideia que tiveram e dos benefícios inerentes a ela. "Você não veste apenas uma camiseta, você veste um conceito. Está tirando duas garrafas do meio ambiente", justifica Vanda.

A partir da propagação desse trabalho, elas esperam conseguir parceiros para dar o start em dois outros trabalhos, a partir de agora, sem fins lucrativos. Um deles é um abrigo para moradores de rua e seus animais de estimação. "Os abrigos em São Paulo não aceitam os cães dos moradores de rua e muitos não vão para esses lugares para não abandonarem os animais", afirma Silvia. A outra proposta é criar um portal de educação à distância para pessoas que não podem pagar um curso de idiomas, design ou artesanato, isso só para citar alguns.

São projetos sociais no aguardo de material humano que encampe a ideia, considerada por elas um sonho possível. "Se você tem um sonho, tem que correr atrás, e o nosso é fazer a diferença no mundo", afirma Silvia.


"Eu faço a diferença no mundo"
Como colaborar com o projeto: comprando camisetas, divulgando a ideia e tornando-se parceiro voluntário na criação e funcionamento do abrigo e do portal de educação à distância. Este, por exemplo, vai precisar de professores que possam doar algumas horas de sua força de trabalho.
Mais informações em: Camiseta Feita de Pet

Telefone de contato: (11) 2084-2680




Foto e vídeo: Luciana Quierati

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Caros leitores e amigos!

Com uma primeira série, abordando o trabalho de voluntários no Poupatempo de São Paulo, declaro lançado o Terra das Boas Ideias! E antes de dar sequência às publicações, que serão bastante frequentes, quero dizer que estou muito feliz por apresentar esse projeto e aproveitar para agradecer:

- a pessoas queridas como o jornalista Luciano Martins Costa, meu amigo e conselheiro de anos, que me fez confiar na ideia e dar o pontapé inicial; o analista de sistemas Luciano Fernandes, meu amigo e autor do Blog de Escalada, que me acompanha de perto, detalhe a detalhe, desde o começo dessa jornada; a designer Natalia De Marco, esposa do Luciano, que me ajudou no manuseio das ferramentas que a partir de agora serão minhas companheiras de edição; e a jornalista e publicitária Sarah Cristina Pacheco Cardoso e sua equipe da agência Voga Propaganda e Assessoria, especialmente o Guto Noronha, que criaram a logomarca do Terra das Boas Ideias e arredondaram o layout;

- agradeço também a minha mãe Idalina e meu irmão Rogério, pelo apoio incondicional de sempre;

- e, por fim, aos grandes amigos de todas as horas, pelo incentivo, sugestões, críticas, dicas das mais diversas, paciência, compreensão e o enorme carinho que mal tenho como descrever.

Vocês todos foram muito importantes, porque contribuíram de forma grandiosa para acertar as arestas deste trabalho. O Terra das Boas Ideias não seria realidade sem vocês. Por isso, sintam-se donos dele também (e, sentindo-se como tais, me ajudem a divulgá-lo! rs).

O Terra das Boas Ideias está integrado às redes sociais:

- Facebook: na página Terra Boas Ideias

- Twitter: http://www.twitter.com/TerraBoasIdeias

Além do Youtube: Terra Boas Ideias

Também tem e-mail próprio, para um contato mais direto: terradasboasideias@gmail.com.

Espero que gostem da iniciativa, que vai falar das boas ideias do cidadão comum que ajuda a transformar o meio em que vive numa sociedade melhor. Confiram os três primeiros textos e vídeos logo abaixo. Foram produzidos com muita dedicação.

Beijo a todos
Luciana Quierati

Um amigo no Poupatempo – Parte 3

Voluntária Nacy Gazola e José Carlos, atendido pelo Voz Amiga.
A professora Nancy Rost Gazola, 73 anos, ensinou muita gente a ler e a escrever antes de se aposentar. Agora, ela escreve para quem não sabe colocar as palavras no papel, pelo Programa Escreve Cartas, e lê para quem não sabe ou não consegue tirar do papel as palavras, pelo Programa Voz Amiga.

Semanalmente, ela doa algumas horas de seu tempo para ler histórias de amor, de guerra, de terror para pessoas como o Luiz Carlos Pereira da Silva, 59, que é deficiente visual. Ele toma livros emprestados na biblioteca perto de onde mora, também na zona leste de São Paulo, e toda semana vai até o Poupatempo para que dona Nancy ou outra voluntária o leia para ele.

O tempo de leitura do Voz Amiga é de meia hora por dia agendado, mas dona Nancy sempre acaba se estendendo. "Durante a leitura, a pessoa se lembra de alguma passagem da vida dela, conta alguma novidade. O Luiz Carlos, por exemplo, está noivo e fala muito da noiva dele, a Kátia Maria. É bom ter esse contato", diz.

"Descubro autores que não conhecia, conheço palavras novas, exercito a leitura, faço amigos... E o melhor é que não me sinto com a idade que tenho. Me sinto mais jovem, talvez por me sentir realizada. Se ficasse só em casa, estaria parada no tempo", diz a voluntária.

Dona Nancy é viúva, tem dois filhos, dois netos e dois bisnetos. Mora na Vila Matilde, zona leste de São Paulo. Além de lecionar, foi também diretora de escola, por coincidência, na mesma instituição onde Luiz Carlos estudou quando era jovem.

Assim, finalizamos a série sobre o trabalho de voluntários em programas do Poupatempo de São Paulo. Espero que tenham gostado!

Sobre o Voz Amiga
 Os deficientes visuais são o público-alvo
 O atendimento é individualizado e realizado por meio de agendamento por telefone. Na data e hora marcada, o cidadão vai ao Poupatempo Itaquera levando o material para leitura, que é feita por um voluntário durante 30 minutos
 Já realizou 232 atendimentos
 Conta com 43 voluntários
 Foi um dos finalistas na categoria inovação em gestão pública na 7ª edição do Prêmio Mario Covas 2011, recebendo menção honrosa
Fonte: Poupatempo



Foto e vídeo: Luciana Quierati

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Um amigo no Poupatempo – Parte 2

Voluntária Clarisse Aun no posto do Poupatempo de Santo Amaro.
Uma boa parte das correspondências feitas por meio do programa Escreve Cartas do Poupatempo de São Paulo tem como destinatários familiares presos. Foi atendendo a um pedido dessa lista que a secretária aposentada Clarisse Mendonça Aun, 85 anos, percebeu que sempre há alguém com um problema bem maior ao seu próprio.

"Era uma senhora humilde, simpática, que vinha sempre pedindo para escrever para o filho preso. Um dia, ela me pediu para noticiar ao rapaz que o irmão dele havia morrido de diabetes", lembra a voluntária. "Ela se manteve firme, e eu comecei a chorar”. Segundo ela, essa foi uma das cartinhas mais tristes que escreveu nos dez anos de trabalho no posto de Santo Amaro – praticamente a mesma idade do programa, que completa sua primeira década em outubro.

Outro campeão de carta são os programas de televisão. "Eles pedem para arrumar a casa, arranjar emprego, e eu digo: agora põe (a carta) na caixa e reza para ser sorteado. Porque são montanhas de cartas que a TV recebe", argumenta dona Clarisse.
Hoje em dia ela coordena os trabalhos no posto da zona sul às quartas-feiras. Fica o expediente todo e não se cansa. Nem falta. A não ser que uma crise de labirintite a ataque. "Não sou eu que estou me doando, são as pessoas que estão me dando muito prazer".

Dona Clarisse é viúva há 33 anos, mãe de um casal e avó de um bebê de um ano. Foi voluntária por muitos anos na Apae e hoje em dia também dá uma mãozinha na Santa Casa de Santo Amaro, como vendedora de um bazar de artigos doados. Mora sozinha, cozinha, limpa e lava roupa. Só não passa as peças porque as costas já não a permitem.

Na terceira e última parte da reportagem, o leitor conhecerá a história de dona Nancy Rost Gazola, 73, voluntária do Escreve Cartas e do Voz Amiga.



Foto e vídeo: Luciana Quierati

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Um amigo no Poupatempo - Parte I

A voluntária Márcia Calixto, no posto de Itaquera.
Ela já escreveu carta para pai que não era o dela, marido preso que nada tinha a ver com seu companheiro, programa de televisão por um sonho que não era seu, mas garante que cada uma dessas correspondências valeu mais do que qualquer outra que expressasse seus próprios sentimentos.
Uma vez por semana, durante duas horas, a funcionária pública aposentada Márcia Sargueiro Calixto é voluntária do Programa Escreve Cartas do Poupatempo de Itaquera, zona leste de São Paulo. Isso já faz três anos, completados agora em agosto. Aposentou-se em um dia e em menos de uma semana estava dando plantão às quintas-feiras.

E por que ser voluntária? Porque foi egoísta, ela admite. Não queria se aposentar e ficar sem ter o que fazer. E, depois de 25 anos lidando com pessoas, no RH do Tribunal Regional Eleitoral da capital, o voluntariado tinha que ser mais uma vez no atendimento ao público, para não perder o costume.

Em seu dicionário, porém, o egoísmo se transformou em satisfação e foi parar lá na letra 'S'. Como não se sentir feliz por ajudar o senhor de idade a conquistar a amada por meio de uma carta de amor que ele não sabe escrever? Ou se emocionar ao ver mãe e filha se reconciliarem após um pedido de perdão grafado em uma folha de papel? Ou ainda, como não se sentir útil ao preencher um formulário para alguém que, por não saber ler e escrever, acaba pondo a desculpa no 'esquecimento dos óculos em casa'?

Momentos tristes e alegres fazem parte do plantão de Márcia, e quando ambos se manifestam por meio de lágrimas, vale o recurso do lencinho embaixo da mesa e o do copo d'água na copa para 'engolir' o aperto no coração. O que importa é voltar para casa com vontade de ver chegar logo a próxima quinta-feira, para poder mais uma vez se sentir menos egoísta.

Márcia tem 58 anos, mora na região de Aricanduva (zona leste). É casada e mãe de duas filhas, uma de 33 e outra de 27.

Na segunda parte da reportagem, o leitor conhecerá a história de dona Clarisse Mendonça Aun, 85, uma das pioneiras do Escreve Cartas.

Sobre o Escreve Cartas
 É um serviço gratuito ao usuário
 Está disponível nos postos do Poupatempo de Santo Amaro, Itaquera, Guarulhos, Osasco, São Bernardo do Campo
 Em outubro de 2011 completa 10 anos
 Já realizou mais de 259 mil atendimentos
 Conta com 238 voluntários
 Exemplos de serviços oferecidos: redação e leitura de cartas, preenchimento de formulários e elaboração de currículos
 Abre vagas para novos voluntários a cada seis meses
 Mais informações e contato: Disque Poupatempo - 0800 772 36 33; www.poupatempo.sp.gov.br e www.twitter.com/poupatemposp
Fonte: Poupatempo



Foto e vídeo: Luciana Quierati