Faz dias que não vejo o seu Carlos e notícias dele, estou longe de ter. Ele não mora em lugar com portas onde eu possa bater, ou com telefone para onde eu possa ligar. Sequer tem vizinhos que possam me dar informações sobre seu paradeiro.
Passar às 5h30 em frente à casa lotérica da Araújo com a Consolação e ver a calçada quadriculada vazia tem sido uma constante. Onde será que ele tem dormido?
Depois que o Teatro Cultura Artística pegou fogo, tendo ele como testemunha, seu Carlos só teve a calçada da lotérica como cama. Ele não costuma dormir em abrigo. Nem está tão frio para que ele tenha procurado por um nesta semana. Já enfrentou temperaturas bem mais baixas sem sair do seu lugar.
E com certeza não sou só eu a sentir a ausência do seu Carlos. Ele é uma pessoa benquista, por conta de sua simpatia, cordialidade e história. Um dia ainda dou um jeito de o seu Carlos me contar tudinho em entrevista, para eu poder dividir com vocês. É uma vida que merece ser contada. Precisam vê-lo falar do AI-5, dos militares, do que pôde ver em seus vários anos como jornalista. Ele foi repórter e até chefe de reportagem. Bem de vida.
Hoje mora na rua, apesar de sua família, que vive em outro Estado, não saber dessa realidade. “Digo que não posso dar endereço porque vivo de pensão em pensão”, é a justificativa que ele dá para irmãos, irmãs e sobrinhos, envergonhado de sua condição.
Fato é que agora nem eu mais sei por onde anda o seu Carlos.
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