Se você tem um montão de amigos, vive falando ao celular ou trocando mensagens de texto com eles, se enturma rápido, tem boa relação com os colegas de trabalho, se dá bem com a família, talvez nunca vá precisar da ajuda da Adriana Rizzo, 41 anos. Mas ela estará à disposição para te ouvir, assim como faz pelo menos uma vez por semana com inúmeras outras pessoas que ela nunca viu na vida, nem chegará a ver.
Adriana é voluntária do Centro de Valorização da Vida (CVV) – você já deve ter visto alguma propaganda na TV. Há 13 anos, dedica quatro horas e meia de suas terças-feiras à noite para ouvir pessoas que não têm com quem compartilhar momentos, sejam eles bons ou ruins. Algumas, à beira da depressão ou do suicídio.
Na grande maioria das vezes, Adriana atende por telefone (90% dos que procuram o CVV o fazem via telefone, segundo a voluntária). Ela ouve quem liga, estimula o desabafo e tenta entender o que se passa. “A gente vai conversando, mostrando que estamos compreendendo. O momento é da pessoa, ela é que vai conduzir”, diz Adriana, que mora em Araraquara, no interior de São Paulo. O CVV, porém, oferece atendimento também por carta, e-mail ou pessoalmente.
Segundo ela, o plantonista da organização, que é uma das mais antigas do Brasil – fundada em 1962 -, procura não interferir, direcionar a conversa ou opinar. ”É difícil falar algo para alguém que você nem conhece”, argumenta a engenheira agrônoma de formação, que recebe treinamento constante para atuar o mais profissionalmente possível.
Solteira e sem filhos, Adriana afirma que muitos casos a comovem, mas que é preciso não confundir os problemas. “Com o tempo, vamos aprendendo a separar o que é nosso e o que é da pessoa que precisa de ajuda”, diz a voluntária. “Nos treinamentos, a gente se ajuda, se apoia. Passamos por problemas o tempo todo também”, observa.
Agora no fim de ano, época em que a sensibilidade fica à flor da pele, o número de ligações aumenta de 20% a 30%, embora algumas delas sejam apenas para agradecer um atendimento anterior e desejar boas festas. Adriana, que trabalhou na terça-feira, dia 27, fará um plantão extra nesta semana, cobrindo uma colega, na véspera do dia de ano novo. Não ficará até a meia-noite, mas certamente alguém estará lá para ouvir quem quer que precise.
“É uma sensação boa de poder ajudar com uma coisa simples, que é conversar com a pessoa. É fácil, todo mundo pode fazer. Quantas vezes a gente não faz isso no ônibus?”, diz Adriana. Para ela, não é necessário ser voluntário, estar dentro do CVV, para oferecer um ouvido amigo. Basta olhar ao redor e ver que há pessoas precisando de atenção. “Às vezes, a gente está tão ensimesmada que não se dá conta disso”.
Voluntariado do CVV
Exigências: ter mais de 18 anos de idade e pelo menos quatro horas disponíveis
Preparo: curso de três meses oferecido pelo CVV várias vezes no ano
Atuação: telefone, carta, contato pessoal, e-mail e chat, nos 71 postos espalhados pelo Brasil
Número de vagas: ilimitado
Inscrições: no site www.cvv.org.br, nos campos “Voluntários” e “Seja Voluntário”.
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