sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Um sinal no fim do túnel

Depois de conversar uns dez minutos com a psicopedagoga Christiane D’Angelo Fernandes, 47 anos, não dá para duvidar que ela seja capaz de transformar agressividade em ternura. Seu entusiasmo é contagiante e empregado no tratamento de crianças e adolescentes com dificuldades no convívio social.

Mas tem um trabalho, que extrapola os limites diários de um consultório, que a deixa ainda mais reluzente. O de voluntária em um grupo que atua dando respaldo ao trabalho do Ambulatório de Socialização do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Esse grupo se chama Sinal (Socialização da Infância e Adolescência Laborada) e dele ela é a diretora-executiva.

Todas as segundas-feiras à tarde e em um sábado por mês, ela e colegas de voluntariado destinam um tempo para conhecer um pouco mais da realidade dos pacientes do Instituto que apresentam dois tipos de transtorno: o de conduta e o opositivo-desafiador. Sabe aquelas crianças que são sempre do contra, não querem obedecer ninguém, não se enturmam, não têm autocontrole sobre as situações e vivem fazendo ameaças por aí? Então, elas são o alvo de Christiane e sua equipe, que também lidam com os familiares dessas crianças e adolescentes. Afinal, o convívio dentro de casa está diretamente relacionado com a questão.

Christiane também tem família. É casada há 21 anos, tem um filho de 17 e uma filha de 14. E como todo mundo na casa já percebeu que sem a atividade voluntária ela não seria a mesma pessoa, o apoio é integral. "Eles compartilham, curtem muito", diz a psicopedagoga, que tempos atrás ouviu da filha que ela era sua heroína. Também pudera. A mãe lida com situações difíceis, relacionamentos delicados de pais e filhos, e chega em casa sempre sorridente, cheia de carinho para dar e ainda com disposição para mais trabalho voluntário – a Sinal não é sua única fonte de 'doação ao próximo'.

Marido e filhos entendem o sentido dessa dedicação e já começaram a dar os primeiros passos no encalço da mãe. Perceberam que é gostoso ajudar. Que acordar às 5h da manhã de um domingo para levar alimento e uma palavra amiga a um necessitado dá uma sensação ao final do dia que um belo passeio na praia, sob a sombra e regado à água fresca, talvez não propiciasse.

Para Christiane, o tempo que se doa como voluntário não é um tempo que se perde. É um tempo vivido em dobro. "Faz bem pra saúde, emocionalmente, te traz muitos amigos", enumera a mulher que não aparenta estar perto dos 50 anos e que garante ser o segredo dessa vivacidade toda a felicidade obtida por poder fazer o que faz.



Vídeo: Luciana Quierati

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