terça-feira, 20 de setembro de 2011

Quando a gente se cansa de "ser normal"


Quase todo mundo já teve seu dia 'jornalista Elcio Thenorio': acordar, ver-se angustiado, descontente com a vida que leva, e constatar que é preciso uma reviravolta. Mas muita gente volta a dormir horas depois e o sentimento de mudança acaba ficando em segundo plano em meio a tantos problemas para resolver.

Pois bem, Elcio Thenorio, um paulista de 51 anos, que foi repórter de TV por 10 anos e atuou na Globo, Record, Bandeirantes e Gazeta, voltou a dormir diferente depois desse dia de reflexões, não deixou a poeira baixar, e só mais alguns dias foram necessários para ele colocar os pés no asfalto. As rodas, para falar a verdade.

Em 3 de setembro, partiu do Marco Zero da Praça da Sé, em São Paulo, com destino ao mundo. Seu projeto, denominado Rodas Livres, é percorrer 90 mil km, por 80 países, em cinco anos, a bordo de uma bicicleta reclinada, em busca de boas ideias na área da sustentabilidade – as quais ele vai relatando dia após dia em seu blog na internet.

Thenorio trocou algumas palavrinhas com o Terra das Boas Ideias ontem. Estava em Jaguariaíva (PR), primeira cidade visitada no Estado vizinho depois de seu percurso por São Paulo. Confira o bate-papo:

O que leva um jornalista com a sua experiência a trocar o sossego de um trabalho fixo, em uma grande empresa como as que você já trabalhou, por cinco anos de pedaladas pelo mundo? Compensa?
Há muitos anos não sei o que é um trabalho numa grande empresa. Durante os 12 últimos anos fui proprietário de duas locadoras de câmeras em São Paulo (Rentalcam e Nova Engs) e de sossego não vi nada. Na minha idade não há mais essa opção de ser funcionário,
bater cartão. A saída é ser empreendedor. E para ser empreendedor novamente em São Paulo, confesso que a ideia não me agrada, ao menos não agora. O que me faz agir assim é a confluência de alguns fatores, tais como: tenho espírito aventureiro, quero conhecer o mundo, estou ficando velho e se não fizer uma loucura agora talvez não dê para fazer mais, cansei de ser normal. É claro que compensa, basta não pensar em termos monetários.

E como fica sua família nessa história?
Sou solteiro, não tenho filhos, meu pai morreu há 1 ano e minha mãe está internada com Alzheimer avançado. Minha família são meus irmãos e sobrinhos e todos estão curtindo junto comigo.

Quais são suas primeiras constatações, resultado desses primeiros dias de jornada? Algo diferente do que o esperado?
Sim, minha progressão diária é bem inferior à que havia imaginado: 60 km/dia. Tenho rodado 60 km num dia, mas depois paro dois – para descanso, turismo e/ou reportagens. Assim, os cinco anos previstos vão acabar se tornando 15. Mas tudo é possível e nada disso me preocupa, porque tenho todo o tempo do mundo, e isso é que é o mais legal.

Você pedala atrás de histórias de pessoas que se importam e trabalham pela preservação do meio ambiente. O que encontrou de mais interessante até agora?
Ainda estou muito no começo, mas já achei esforços pela criação de um parque nacional em torno do Cânion Pirituba, em Itapeva. Também uma empresa que criou uma trilha ecológica para fins educativos numa fazenda em Itararé. Um artesão que faz sua arte apenas com material colhido no mato, em Jaguariaíva. E a estrada continua...

Como tem sido para esse jornalista escrever cada dia a partir de uma cidade e para um infinito de pessoas, pela internet?
Meus posts diários tornaram-se, para minha surpresa, uma espécie de novela, com muitos seguidores. Esse pessoal me escreve diariamente e chega a cobrar se deixo de postar. Isso também tem sido muito bacana e gratificante para mim.

Existe algum país ou lugar que o deixa mais ansioso por chegar?
Sim, o Paraguai, porque é o próximo.

Projeto Rodas
Elcio Thenorio vive de patrocínios. No site do projeto dá pra saber como contribuir com a jornada do jornalista.

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