Na próxima segunda-feira, 6 de janeiro, uma centena de alunos da zona rural de Ibiúna vai se deparar com uma escola diferente, justamente porque o sábado, de manhã nebulosa, foi dia de mutirão, que começou com encontro no primeiro posto de combustíveis da Raposo Tavares depois do Rodoanel. Dali, estrada a baixo, rumo ao município vizinho a São Paulo. Dia de trabalhar junto, de calejar a mão na enxada, de sujar a cara de tinta, de subir no telhado. De arrumar cano furado, de riscar a amarelinha no chão, de desenhar um cartaz de boas-vindas. De comer pão com mortadela e tomar café feito no fogão industrial cheio de segredos, que demora a ligar, mas, quando ligado, ferve a água numa rapidez que é uma beleza!
Dia de pensar que as crianças que nem sonham com isso tudo têm direito a ter uma vida como é a de cada um unido nesse mutirão. De acordar cedo, sim, com o despertador chato, sim, mas poder ir para a empresa fazer os cálculos que a engenharia exige, de ir para a rua e dela reportar os problemas e as alegrias das pessoas, de subir o elevador do prédio chique e falar inglês com os clientes. E vai ser a partir da escola mais bonita que as crianças da escola municipal Tereza Falci vão descobrir que existe uma galera de um tal de Projeto Presente para o Futuro que se importa com o futuro delas. Que passou as férias fazendo planos para agregar ao trabalho dos professores.
"Imagine você chegar à escola, vê-la melhorada e saber que aquilo foi feito por pessoas que você nunca viu", antecipa a reação da criançada o engenheiro ambiental Thiago Pereira, de 28 anos, que mora na boêmia Vila Madalena. "Sempre estudei em escolas em que as condições de estudo não contribuíam muito, tanto para o aprendizado quanto para a relação com os outros alunos. Então, acho que uma boa educação também está relacionada com as condições do local de estudo, da pré-escola até o ensino superior", diz ele, que também fez cair da cama cedo a namorada, Letícia Manolio, 32.
Thiago Pereira prepara madeira para reparos nas portas das salas de aula. |
O Projeto Presente para o Futuro é uma espécie de cria do Terra das Boas Ideias. Por conta de uma reportagem para o TBI, surgiu o PPF, e agora esta blogueira já não sabe mais a quem dar mais atenção, se a uma siga ou a outra. Dorme escrevendo para um, acorda pensando no outro. E no sábado, também esmurrou o despertador em nome dos alunos do afastado bairro do Cupim. Até podia ter ficado mais na cama, uma vez que teve que esperar a boa vontade da CPTM em liberar um trem para trazer a amiga Karina Pina até a estação Cidade Jardim para juntas seguirem para o posto no Pangaré (o meio de transporte deste blog). Foi quase meia hora de espera em local proibido (por falta de opção), temendo avistar algum marronzinho pelo retrovisor.
Karina, 29 anos, é secretária em um escritório de advocacia, e mesmo preocupada com o namorado que acordou mal do aparelho respiratório, não fugiu à missão. Ligava pra ele de meia em meia hora, mas pintou as amarelinhas no chão direitinho. "Se as crianças ficarem felizes de ver a nova amarelinha no chão, já valeu a pena toda essa dor nas pernas", diz Karina, que penou com o agacha e levanta constante no meio do pátio.
Karina Pina e a namorada de Thiago, Letícia, pintando a amarelinha. |
E se ela gostou do resultado do mutirão, quem dirá a criançada. Além de amarelinhas, a escola ganhou ilustração na parede pátio, horta com mudas de alface, rúcula e várias plaquinhas exortando à preservação e aos bons cuidados, uma porção de pitangueiras que em breve começarão a dar frutos e portas das salas de aula reformadas, pintadas e identificadas com muita arte.
Voluntário William Souza decora parede do pátio da escola. |
Galera reunida ao final dos trabalhos. De preto, a diretora da escola, Etelvina. |
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