quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Na favela, dando sentido à vida numa cadeira de rodas

Rose e o caderno com o cadastro das famílias beneficiadas.

Daqui a 10 dias, cerca de 200 crianças da Favela do Cigano, em Santo André, na Grande São Paulo, vão ter uma festa de Natal. Talvez a primeira da maioria. Com direito a sacolinha com roupas e doces, cachorro-quente e muita música animada.

A favela pode ser vista ao longo da linha férrea que liga o município à capital, e fica do ladinho da estação que toma emprestado o nome do bairro, Utinga. Foi criada por ciganos, mas eles já se foram. Também não há bandidagem, assegura Maria Rosimere da Silva, de 36 anos, idealizadora do evento.

A Favela do Cigano, que fica ao lado da estação Utinga de trem.

Foi contemplando a vida em harmonia na comunidade de cima de sua cadeira de rodas, junto ao seu portão, por tardes e tardes, que Rose também percebeu que as mesmas pessoas que viviam em paz, estavam na miséria. E a gota d’água para tomar uma atitude foi quando um menino (foto), que ainda circula de fraldas pela Travessa da Paz, a principal rua da favela, veio até ela pedir comida.
O pequeno que inspirou Rose a trabalhar pela comunidade.

Uma vizinha doou um cômodo e nasceu o Clube de Mães, que almeja não apenas uma festa de fim de ano, mas assegurar um pouco mais de dignidade aos moradores durante o restante dos meses. Rose, que foi morar na favela porque não conseguia pagar o aluguel na Rua Viena, também em Utinga, hoje quase não sai de casa. Impossibilitada pela falta de movimento nas pernas, quando sai, ou é para ir ao médico ou para pedir doação para os vizinhos mais pobres.

O que ela pode fazer dentro da própria comunidade, ela faz. Enquanto conversávamos, um carro de som, caindo aos pedaços, passava pedindo que todos os pertences fossem retirados da travessa porque em poucos dias o asfalto vai chegar. Assim como no ano passado chegaram a água encanada e a energia. E o asfalto, ai se não fosse Rose tomar a frente e fazer um abaixo-assinado!

Até dar um jeito de alfabetizar quem não pôde ir à escola, o grupo de Rose pretende. O Clube de Mães já conseguiu carteiras e alguns computadores. Agora só falta dar um jeito de as aulas começarem. Ela própria não estudou quando criança e quando se preparava para iniciar a quarta série no supletivo, ocorreu o acidente de trabalho. E agora, por ironia do destino, por conta dela a filha do meio, de 15 anos, deixou a escola.

A sala onde o grupo de Rose pretende promover aulas para adultos.

Mas Rose não perde a esperança de voltar a andar e de ver a filha formada em arquitetura. Nem de ver sua favela transformada em um bairro mais abastado. Do que depender dela, não faltarão braços para tornar isso tudo uma realidade.



Fotos e vídeo: Luciana Quierati

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Estou iniciando um projeto que envolve músicas, um livro e a Favela dos Ciganos. Vou entrevistar moradores e comerciantes e pesquisar sobre a região. Caso alguém se interesse em colaborar de alguma forma, contacte-me por favor.

    tataalvesmpb@gmail.com

    Muito obrigada,
    Tata Alves.

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  3. Alguém poderia me ajudar a encontrar essa rua principal no google maps?

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