Cresceu sendo chamada ora de Cidinha, ora de Peninha. Estudou até a quarta série primária. Aos 10 anos entrou para um curso de corte e costura e, com 12, "já era costureira formada", conta. Trabalhou para várias confecções e até aquelas camisas brancas de doer dos oficiais da aeronáutica ela chegou a coser.
Dos 15 aos 17, enfrentou o grande desafio de ocupar a função de cozinheira-chefe no lugar da mãe, que ficara doente, no acampamento que abrigava os obreiros da BR-101 em Juquitiba. Diariamente, preparava as quatro refeições de 240 trabalhadores. Ela, a irmã e dois ajudantes. Levantava às 4h para dar conta do café da manhã e terminava o serviço entre 20h e 21h. Só depois ia descansar. Foi assim durante dois anos, até o término da construção do trecho de rodovia.
Aos 18 anos, morando em Itaquera, conseguiu vaga para residir e estudar em um hospital na zona norte. Sonho seu ser enfermeira. Mas a mãe não deixou. "No passado, eles achavam que enfermeira não era profissão para moça. E a gente tinha obediência, não vou dizer cega, mas saudável, e obedecia".
Pouco depois conheceu, numa festa de casamento, o que veio a se tornar seu marido. Uma semana antes do falecimento do pai. Ela tinha 19 anos. Com José da Silva Siqueira teve quatro filhos e uma vida familiar que durou 25 anos. Quando se divorciou, não quis mais saber de homem. "Eu tinha mais coisas para pensar e batalhar com os meninos", justifica.
Há dois anos mora na Praia Grande, onde se associou a um dos filhos em um comércio, e agora está com a casa à venda, porque vai tentar mais uma batalha ao lado dele. O empreendedorismo se faz necessário e ela não tem medo de arriscar. Talvez volte para a zona leste ou siga para Mauá. Em breve o futuro estará decidido.
Mas de uma coisa ela não abrirá mão: a produção de bolsas feitas com tecido de guarda-chuvas e sombrinhas sem utilização. Já faz uns anos que ela começou com essa história. Vinha conversando com uma amiga pelo caminho, quando, sem mais nem menos, surgiu o assunto. Ela havia guardado dois guarda-chuvas para aproveitar o pano de alguma forma e a amiga, por coincidência, também dispunha de uma sombrinha. "Por que você não costura uma bolsa para mim?". A sugestão da amiga virou negócio.
Maria Aparecida lançou a campanha entre os filhos, amigos dos filhos, vizinhos. Quebrou sombrinha, o destino é certo! E a produção de bolsas, sacolas de supermercado e carteiras foi se desenvolvendo. Mais que uma ajuda com as contas no final do mês, a ação da costureira evita que mais material vá pro lixo. Até a armação tem destinação correta: os carrinhos dos catadores de recicláveis.
Mesmo antes de o termo sustentabilidade virar moda, Maria Aparecida já era incentivada a agir responsavelmente com o meio em que vive. Ela lembra que o pai, quando tinha a pensão, em um dia ia buscar palmito na mata para as refeições dos hóspedes, e no dia seguinte voltava para fazer o replantio. "Palmito não ia nascer sozinho. Por isso ele ia lá desfazer o que tinha feito".
Lição aprendida. Nada se perde nas mãos de Maria Aparecida. Até para o que sobra de retalhos depois das bolsas prontas, ela achou uma destinação. "Percebi que os retalhos, misturados à espuma, deixam a almofada mais leve".
E assim, a existência dessa pessoa, que demorou um pouco a "existir", se torna cada dia mais essencial.
Dos 15 aos 17, enfrentou o grande desafio de ocupar a função de cozinheira-chefe no lugar da mãe, que ficara doente, no acampamento que abrigava os obreiros da BR-101 em Juquitiba. Diariamente, preparava as quatro refeições de 240 trabalhadores. Ela, a irmã e dois ajudantes. Levantava às 4h para dar conta do café da manhã e terminava o serviço entre 20h e 21h. Só depois ia descansar. Foi assim durante dois anos, até o término da construção do trecho de rodovia.
Aos 18 anos, morando em Itaquera, conseguiu vaga para residir e estudar em um hospital na zona norte. Sonho seu ser enfermeira. Mas a mãe não deixou. "No passado, eles achavam que enfermeira não era profissão para moça. E a gente tinha obediência, não vou dizer cega, mas saudável, e obedecia".
Pouco depois conheceu, numa festa de casamento, o que veio a se tornar seu marido. Uma semana antes do falecimento do pai. Ela tinha 19 anos. Com José da Silva Siqueira teve quatro filhos e uma vida familiar que durou 25 anos. Quando se divorciou, não quis mais saber de homem. "Eu tinha mais coisas para pensar e batalhar com os meninos", justifica.
Há dois anos mora na Praia Grande, onde se associou a um dos filhos em um comércio, e agora está com a casa à venda, porque vai tentar mais uma batalha ao lado dele. O empreendedorismo se faz necessário e ela não tem medo de arriscar. Talvez volte para a zona leste ou siga para Mauá. Em breve o futuro estará decidido.
Mas de uma coisa ela não abrirá mão: a produção de bolsas feitas com tecido de guarda-chuvas e sombrinhas sem utilização. Já faz uns anos que ela começou com essa história. Vinha conversando com uma amiga pelo caminho, quando, sem mais nem menos, surgiu o assunto. Ela havia guardado dois guarda-chuvas para aproveitar o pano de alguma forma e a amiga, por coincidência, também dispunha de uma sombrinha. "Por que você não costura uma bolsa para mim?". A sugestão da amiga virou negócio.
Maria Aparecida lançou a campanha entre os filhos, amigos dos filhos, vizinhos. Quebrou sombrinha, o destino é certo! E a produção de bolsas, sacolas de supermercado e carteiras foi se desenvolvendo. Mais que uma ajuda com as contas no final do mês, a ação da costureira evita que mais material vá pro lixo. Até a armação tem destinação correta: os carrinhos dos catadores de recicláveis.
Mesmo antes de o termo sustentabilidade virar moda, Maria Aparecida já era incentivada a agir responsavelmente com o meio em que vive. Ela lembra que o pai, quando tinha a pensão, em um dia ia buscar palmito na mata para as refeições dos hóspedes, e no dia seguinte voltava para fazer o replantio. "Palmito não ia nascer sozinho. Por isso ele ia lá desfazer o que tinha feito".
Lição aprendida. Nada se perde nas mãos de Maria Aparecida. Até para o que sobra de retalhos depois das bolsas prontas, ela achou uma destinação. "Percebi que os retalhos, misturados à espuma, deixam a almofada mais leve".
E assim, a existência dessa pessoa, que demorou um pouco a "existir", se torna cada dia mais essencial.